quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Vida matinho é vida boa.


Sabe aqueles verdinhos que nascem no canto do asfalto que ninguém dá bola?

Aqueles que o cara da Comcap é pago pra arrancar de lá sem dó nem piedade?
Então, eu sentei e fiquei olhando pra um desses esses dias.
No meio do cinza, da fumaça, da poeira, da confusão, dos pés, da borracha...ele tá lá, verde.
Eu não entendo como pode, ser insistente naquela vida medíocre de matinho verde.
Sem função, sem produção substancial de O2, sem futuro, porque dentro de dias o destino certo do matinho, é a pá do tio da Comcap.
Mas ele não tá nem aí.
Ele é daninho, uma praga. Arranca, nasce, arranca, nasce.
Esse texto não tem nenhum final bonito, nenhuma moral, nada que faça você abrir seu maxilar e dizer Ó!, e eu tenho certeza que 5 minutos depois de postar eu vou achá-lo ridículo.
Esse texto é na verdade uma pergunta.
Como alguém ou algo, consegue ressurgir do nada?
Como alguém insiste em renascer não sendo ao menos desejado?
Tipo, ninguém vai pro canto da estrada regar e colocar adubo ou torcer em coro pra que ele nasça.
Ninguém, e há anos a saga se repete.
Acho que eu preciso mesmo é de uma vida de matinho.
Sem regadores, sem adubos, sem bajulações, sem mentiras, promessas.
Quem sabe assim eu me levante de novo e verde, antes que o ano acabe.

Kamila V.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Aos que se foram, obrigada.

Eu não sei muito sobre a vida, sobre as relações e as pessoas.
Eu não sei muito sobre essa roda-viva.
Mas eu tenho algumas suspeitas sobre o que faz a tal roda girar, a respeito do que me pára, me move e de vez em quando suspirar...
Eu aprendi sobre o medo, ficando no escuro mesmo.
Aprendi que chega uma hora que o medo adormece, que dá e passa.
Em vez de eu correr do monstro, eu o abraço, agarro.
De repente é ele que cansa do GRRRRRR! e vai embora à procura de alguém que se assuste com o mundo e toda sua podridão.
Aprendi sobre saudade, deixando ir pra longe quem eu gostei ou até mesmo amei...
Aprendi que olhar as cartas, olhar as fotos, alimentar a saudade faz ela dormir depois.
Faz ela todo dia querer um pouquinho mais de comida e dormir um sono maior do almoço.
Até que chegou o dia em que ela esqueceu de acordar. E eu pude finalmente limpar minhas gavetas.
Deixar o passado definitivamente passar, passar por mim...
Aprendi sobre o amor, vendo ele chegar e partir.
Amor é assim mesmo, eterno enquanto dure este clichê.
Por isso, não se morre de amor.
Aprendi sobre morte, deixando quem se foi levar um pedaço de mim.
Ficou aqui o resto, que teve de aprender à força sobre tudo isso e continuar achando graça.

Kamila V.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Deja' vu.


Daqui do meu lugar eu vejo a cidade acordando cansada.
As crianças brincam com a fumacinha que sai da boca.
Fingem fumar.
Os adultos correm contra o relógio à favor do atraso.
Fingem viver.
As mulheres carregam bolsas, filhos e a desventura de mais um dia com dois expedientes.
Os homens mastigam uma bobagem qualquer pra enganar o estômago.
Devoram uma certeza qualquer pra enganar o coração.
Todos se arrastam, todos cochilam de pé. Todos apenas sobrevivem.
Os vidros fechados nos sinais. Os sinais fechados pro tumulto.
Os olhos fechados pra tudo.
A cabeça recostada no vidro do ônibus, a mochila pesada nas costas.
É só mais um dia vadio.
O telefone não toca, a música não toca, todos te tocam, te espremem, mas não tiram virtude alguma.
Não te percebem.
É só mais um dia vazio.
Na contagem de um preso, um a menos.
Na contagem de um idoso, um a mais.
Na minha contagem, apenas um.
Mais um dos mesmos.
Kamila V.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Cale-se.


Eu conferi o gorro e o cachecol.
Pus as luvas e depois a mão na fechadura.
Saí.
Meu nariz sofreu. Afinal, eu posso esquentar qualquer parte da corpo, mas o nariz não... Ele tá sempre lá do lado de fora.
Vermelho e gelado.
Mas o assunto não é especialmente o frio nasal daquela manhã. E sim o frio de alma.
Quando olhei, quando ouvi, todos se despiam dos seus sentimentos.
A moça atravessou minha frente gritando o amor sofrido e escondido pelo melhor amigo. Casado.
Um senhor queixa-se silencioso da vida ingrata, que seus filhos ingratos lhe oferecem.
A criança chora por dentro, sem explicações sobre as brigas diárias dos pais.
Um casal ama, planeja e se ilude.
Um homem deseja a mulher que passa ao lado.
E eu aqui perplexa por essa exposição sem-vergonha, sigo caminhando e ouvindo os segredos, pecados e anseios.
Nada fica oculto e por menos que eu queira, eles me contam, me confidenciam...
Essa liberdade que eu não dei à eles, me atordoa e os tranquiliza.
Como pode ser isso? Será que não percebem o que estão me falando?
Não percebem o quanto não quero essa sinceridade?
Não, ninguém percebe.
Aliás, o mundo continua perfeitamente normal fora de mim.
Continua reto.
Ninguém sabe que me diz.
Mas dentro de mim há uma revolução de sentimentos, de falas, de intimidades.
Porque eu?
Porque sobre mim esse peso?
Eu nunca quis saber das coisas. Se puder, afasta de mim esse cálice.
Eu quero ser inocente, quero andar leve, quero ver por fora...nem saber o que se passa aí.
Porque quando cruzo com você e fico te vendo por dentro, eu sofro demais.
Poupe-me disso.
Kamila V.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Embarque nesse carrossel.


Crianças têm muitas dúvidas, vivem enchendo os pais de perguntas.
Eu lembro de uma em especial que eu tinha e hoje acho muito criativa. Quem aprende uma língua estrangeira, será que depois de algum tempo falando ela, também a utiliza nos sonhos?...
Se sonhar já é difícil, imagina sonhar em mandarim.
Tá bom que eu viajava, mas acho uma dúvida legal e menos idiota do que as que tenho hoje.
Eu fui crescendo, crescendo (tá...eu não cresci muito.), cheguei na fase da menina-mulher. Fase tão horrível quanto esse nome, aliás, só se usa essa palavra em convite de festa de 15 anos....
Sei lá, no meu tempo se usava...
E hoje eu faço parte do fantástico mundo de gente-grande. Aquele em que minha mãe era a mais linda das mulheres e meu pai o melhor pai do mundo.
No mundo deles eu poderia ser livre, eternamente feliz, inteligente.
E iludida.
Nesse meu mundo passei a entender porque minha mãe calava minha perguntas dizendo que eu era muito criança pra entender certas coisas.
Mas hoje eu sei que ela não tinha a menor idéia sobre certas coisas.
Só que não havia ninguém naquele mundo dela que fosse maior. Não há ninguém no meu mundo maior que eu, que nós adultos.
Hoje depois de grande, não dá mais pra me convencer de que a vida é uma escola. Porque tem coisas, as mais importantes por sinal, que nunca se aprende.
Tem coisas que se morre velho sem saber.
Tem coisas que todos somos crianças demais para entender.
Ninguém sabe falar de cura pra saudade...ainda que digam que tal remédio seja o tempo. Tempo só serve pra envelhecer...e todos sabem que velhice pede mais remédio ainda.
Niguém sabe falar com propriedade sobre amor. Tudo que sabemos são apenas suposições, apenas idéias.
Sobre morte, sobre guerra, sobre saudade, sobre dor...todo mundo enrola.
Mas ninguém responde.
Culpam a cegonha, culpam o destino, culpam o Bush, culpam Deus, culpam a coluna... palpites, apenas.
Pra essas questões não existem títulos, nem experiências que tragam a resposta.
Mas isso não é mais problema no meu mundo. Aqui a gente finge.
E finge bem ser o dono da verdade, sem ao menos saber se verdades existem.
Afinal, nossas crianças precisam dormir tranquilas, sossegadas e esperançosas.
Precisam deitar acreditando que qualquer dia desses quando acordarem terão ciência de tudo.
Porque qualquer dia desses sem perceber elas acordarão fazendo parte do meu mundo, desse mundo de faz-de-conta que só gente grande sabe fazer.
E aí elas verão que aqui, tudo é de mentirinha.

Kamila V.



segunda-feira, 14 de julho de 2008

Ele e ela.


Ela sentia o suor pelas costas.
As gotas procuravam em cada investida, caminhos diferentes e denunciavam o nervosismo na camisa branca.
Ela estalava os dedos, balançava as pernas, mudava a posição, folheava cega uma revista antiga.
Enxergava a demora pendurada no ponteiro.
Toneladas sobre as horas.
Havia anos que ela sonhava, imaginava, supunha, como seria aquele momento.
Como seria ele? Como seria seu rosto? Será que ele lembraria das coisas que ela havia dito até ali? Dos pedidos, das exigências, dos desabafos, dos desafios, dos erros, dos acertos?
Ela só sabia que estava preparada. Perfeita e impecável, ao menos na aparência.
Na frente dela, a porta. Após a porta, o desconhecido.
Quando ela se abriu, uma estatura mediana de aparência comum demais, surge do interior da sala branca.
Até aí, abaixo da expectativa.
Ela segue no seu salto e na sua roupa cara atravessando a sala de espera até chegar em frente a ele.
Os dois olham-se nos olhos.
Ela descobrindo. Ele reconhecendo.
Já dentro da sala, sentam-se em silêncio, frente-a-frente.
Ela pede, ele pede, que fale. Os dois riem da coincidente frase e ele começa.
Conta da saudade, da espera, do sofrimento, das alegrias, enfim, só fala dela e do que ela faz o tempo todo.
Coisas que ela nem lembra mais. Coisas que ela prefere esconder. Muitas e muitas coisas.
E com as memórias boiando na tona, ela ri, chora, envergonha-se, orgulha-se.
O corpo esquece de suar, de tremer. Ele a acalma tanto...
A serenidade faz todo sentido ali perto dele.
E depois de tudo exposto, ela pede perdão pela milésima vez.
Promete mudar a si e ao mundo. Quebrar diferenças, tabus, preconceitos.
Ele só sorri. Diante daquele desespero infantil ele acalma com aquela transparência cristalina, que só tem que não tem nada a esconder. Só os donos da verdade.
E ela se esforça pra que ele acredite que dali pra frente será tudo diferente. Que aquele encontro mudou tudo nela, essencialmente.
Mas ele sabe que não. Ele com os ombros pesados e doridos, sabe que ao despedir-se ela será tão sórdida, tão igual a todos os outros.
Mas ele a ama.
E naquele momento só ela importa.
Não quer perdê-la dali. Não quer perdê-la assim purificada, redimida, arrependida.
Resta pra ele duas opções.
Deixá-la ir e sofrer de novo a dor, a saudade, a ausência.
O esquecimento a encontrará na porta da sala. E a levará nos braços mais uma vez.
Ou findar tudo ali, já que os pratos estão limpos.
Resta pra ela uma escolha.
Então ele a fulminou com os olhos. E ela caiu sobre os ombros da poltrona.
Sem mudar o mundo, sem acabar com preconceitos e diferenças.
Não foi solidária, não entrou pra nenhuma Ong.
Não deu esmola, não fez caridade, nem doou órgãos.
Mas quando ela intencionou, ainda que por minutos, ser alguém melhor, ele aproveitou para salvá-la dela mesma.
Pra nunca mais errar.
Kamila V.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Bipolar.


Ela se achar superior é uma forma de mentir.
Uma forma de dizer pra ela (e só pra ela..) que não é um blefe...
Quando sabe que é.
Não é a toa que ela ri com aquele ar piedoso das besteiras alheias. Aquele riso é legenda pra "Pobre coitado..."
Ela é assim, uma farsa.
Finge que não liga o amor porque sabe que não pode controlá-lo. Aliás tudo que lhe foge do controle é descartado.
Prefere fazer tudo sozinha, porque jura que uma cabeça(a dela), funciona melhor que várias(outras)...
Ela é assim, por fora todas as respostas. Por dentro todas as perguntas.
Ela prefere dar à receber.
Porque ter é complicado demais e só quem tem pode perder.
Prefere dissimular à dar importância.
Só pra fazer aquela cara blasé que só tem quem já viveu de tudo um pouco, pra fingir que nada a surpreende.
O tênis no pé, segundo ela, é porcausa do conforto.
Mas eu sei que é porque ela não sabe andar de salto.
Ela é uma contradição por completo.
Ela não é, pra bem da verdade.
Quando bate a porta...se afasta do mundo, fica na tangente da vida.
Grita no silêncio: dor, amor e disparate.
É como se ali seus pensamentos, e dúvidas, e medos, esbarrassem uns nos outros procurando portas, janelas, frestas, saídas...
Ela é assim. Duas em uma.
E nem sabe qual quer ser.


Kamila V.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Droga de texto


Eu não escrevo por obrigação. Eu escrevo porque é um vício.
É um vício estranho, eu sei. Tem momentos que eu risco, risco e rasgo tudo.
Tem outros que surge aquela história..aquela que eu queria taaanto falar e não tem papel.
Tinha um bloco na bolsa.
Mas tava com dificuldade de encontrar coisas como carteira e telefone entre a papelada. Aí depois de muitas ligações perdidas (pelo tempo da procura do celular...) e sustos do tipo:" Caaara cadê minha carteira!!", eu resolvi tirar o bloco de lá porque ele tava ferrando com a minha vida.
Agora escrevo quando dá.
Mas a mente martelando toda hora, me encomoda.
Me encomoda o fato de não poder esvaziá-la.
De não pôr pra fora os pensamentos todos.
Não poder digerí-los, engorda minha cabeça.
Definitivamente, o papel é o meu metabolismo mental.
Mas escrever tem lá suas desvantagens...
Eu falei pra uma amiga, que se eu pudesse eu mudaria a forma de comunicação. Pra mim o ideal seria falar com bilhetes, cartas, rabiscos.
Depois das letras, me tornei um zero(nem à esquerda, nem à direita) em oratória.
O prazer de falar diminui proporcionalmente à quantidade de textos que escrevo.
Mas mesmo correndo o risco de emudecer, de acabar com as àrvores do planeta, de não atender ligações e de ficar sem dinheiro e documentos por minutos...
Mesmo que me peçam o favor de parar, que critiquem, ou que nem leiam...
Mesmo com todos esses mesmos, sinto...mas não consigo.
Acreditem, é por não conseguir, que não largo isso.
Assim como todo vício tem das suas alucinações, quando olho um papel em branco, surto com seus pedidos pra que eu escreva.
Talvez eu precise mesmo parar de escrever.
Talvez eu precise dar um tempo.
Amarrar as mãos e os pensamentos.
Atender ligações...





Alguém sabe aí uma clínica de reabilitação para escritores?

quarta-feira, 4 de junho de 2008

De corpo e alma (jovens de preferência...)




Ele me mostrou a identidade dele e disse:
-Olha minha filha, vê se não é de chorar?
Eu não respondi, por educação claro, mais pensei horrores do tiozão... Achei que fosse mais um daqueles querendo ser eternamente jovem.
Aí ele me contou que esses dias acordou, se olhou no espelho e chorou, por ver que estava velho ( eu continuei xingando ele em pensamento...) e só ter olhado pra ele e pra vida dele, tarde demais...(juro, parei de pensar merda na hora.)
Na identidade ele tinha 18 e um rosto bonito... E eu a partir daí me comovi profundamente, não por ele ter deixado a beleza passar junto com os anos, mas por ver que o fim é sempre o mesmo.
Que os anos, além de enrugarem sonhos e feições, passam a toda velocidade...sem dó.
E um enorme medo me envolveu. Dessa vez, um novo medo. Acolhido pela turma dos que já existiam em mim, me encurralou num corredor de portas fechadas. Então me vi assim, sem saída diante da fúria do tempo.
E a primeira vez que tive de medo de envelhecer foi quando ouvi as palavras daquele homem, que era jovem por dentro, mas tinha sido incapacitado de exercitar sua juventude pela casca da velhice. E como alguém que sofreu um feitiço, o moço dentro do corpo cansado explodia em saudades.
E o medo me calou por todo o depoimento fim-de-vida que tinha aquele homem.
Ele que acreditava ter apenas alguns poucos metros de caminho para andar, me deixava pedida entre os muitos quilômetros de atalho que me esperam nessa estrada louca que é meu destino.
Me deixava sem palavras, sem ações, diante daquela tristeza que fazia todo sentido.
O que fazer quando o corpo briga com a alma?
Que solução tem pra isso?
E eu apesar de todas as minhas manias idosas, sinto que vai chegar o dia em que botarei a alma pra lutar contra meu corpo velho.
E quando a vida gritar de dentro pra fora?
Como poderei olhar pro espelho sem chorar?
Eu que brigo tanto com sonhos. Espantando eles da minha mente como se espanta mosquitos que voam ao redor da cabeça, senti uma vontade(inha....) de resgatar antigos sonhos.
Alguns poucos que por livre e espontânea pressão tinha abandonado.
Senti vontade de dizer pra todo mundo que eu amo, Eu te amo.
E pra quem não amo, que os quero amar também.
Senti vontade de ligar pra antigos amigos, pra ver a quantas anda a vida...
Senti vontade de pedir perdão.
De mandar carta, não e-mail.
Senti vontade de escrever pra deixar documentado, que certa vez um homem me mostrou que não importa qual seja o fim, ele sempre é triste.
Que minha alma jovem só sobreviverá enquanto meu corpo for relativamente jovem.
E a morte dela tem dia marcado.
O dia do choro no espelho.
Kamila V.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Os sonhos que a terra ainda há de comer.


A pergunta que não cala em mim, é a mesma toda manhã.
Toca o despertador pra mim trabalhar e eu sempre penso...
Quando minha vida vai começar?
Porque o modelo ideal que me apresentaram é bem surreal.
Digno de propaganda de margarina. Aquelas que você assiste e conclui:Isso que é vida!
Café-da-manhã gostoso, dona-de-casa gostosa, criançada sorridente e maridão passando a manteiga.
E você automaticamente se coloca na posição de quem vive uma pré-vida.
Estudando, trabalhando, pra algum dia ser alguém.
Adiando a vida. Deixando pra depois. Pra ser, só quando crescer.
E isso eu não entendo.
Não entendo porque todo mundo prefere viver assim, de sonhos.
Talvez porque é muito chato realizar. A realização é sem graça e a sensação de tarefa cumprida, não emociona.
Quando o sonho acontece, ele nem é mais sonho.
Porém viver deles é apenas uma parte do problema.
A outra, é sonhar diferente de todos.
Eu nunca entendia porque me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse.
Como assim? replicava eu. Aí vinham os exemplos ( dentista, advogada, engenheira..) e com eles minha vergonha de responder.
Em pensamentos eu respondia: escritora. Em palavras eu respondia: Dentista.
Os olhos familiares pestanejavam aliviados quando ouviam minha sensata escolha.
Ufa! mais uma pessoa normal na família.
Ate meu primo decidir jogar no outro time e acabar com essa normalidade.
É feio fugir do padrão.
Da beleza enquadrada.
Das histórias de amor.
Das casas grandes com cachorros grandes.
De querer ser mãe.
De querer sucesso e dinheiro.
É mais feio ainda, não ter sonho algum.
Querer viver o hoje, simplesmente porque a vida já tá rolando...
É muito chato ter que desiludir. Ter que fazer o trabalho sujo de falar isso.
De falar que a vida é isso mesmo. Que enquanto você me lê, ela acontece.
Sem sinos tocando, sem estrelas brilhando, sem trilha sonora.
E é melhor acreditar, cair na real. Aceitar e viver.
Antes que a terra faça uso da fertilidade quem tem essa sua mente, cheia de sonhos.
Kamila V.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Me inclua fora desse.(dia)






O céu acordou gritando pro mundo que esse seria mais um dia daqueles.
Meu cabelo também.
Minhas roupas também.
Nem maquiagem daria jeito nele.
O elevador fez um "tour" até meu destino, o térreo, acompanhada da simpatia matinal de 7 condôminos, num lugar onde cabem 8. E todo mundo sabe que elevador pra 8, só se forem 4 grávidas.
Que piada ridícula.
Voltemos ao dia...
Chegando, o porteiro me entrega em mãos, num ato solene, minhas contas do mês.
Nada como começar o dia em débito!
(Ah, está chovendo claro..detalhe importante.)
O carro passa e lava a alma.
O trânsito pára. E ninguém pára na inquietação dos pensamentos.
Ouço sobre as buzinas, carros-de-som e confusão social, os gritos mudos do blá-blá-blá mental.
Homens desejam mulheres que passam...
Mulheres desejam a roupa de outras mulheres...
Casais brigam de mãos dadas...
E acompanhando a marcha-lenta dos rostos cansados, o dia segue.
Todos seguem mesmo sem ter motivos, sabendo bem onde isso vai dar.
Nada muda, o planejado pelo destino sempre acontece.
É o almoço, a azia, o calor, as crianças no colégio, o jantar, a TV, o sono, e o novo dia...
(novo dia? piada mais ridícula ainda...)
O dia é sempre o mesmo, só espero que o lance das contas do mês fique pro ontem.
A repetição causa L.E.R. na consciência.
O beijo, bom-dia, com licença, obrigado, é o script desse teatrinho ensaiado.
E nós? meros coadjuvantes de péssima atuação.
Porque o papel principal... é sempre da mocinha.
A rotina safada.
Kamila V.

domingo, 18 de maio de 2008

Não achei no Google.


Estou perdida. E o que é pior, no tempo.
Tenho certeza que nasci na época errada, uso roupas erradas, faço coisas totalmente atemporais.
Pro meu tempo e pros meus 21.
Minha irmã riu do jeito que eu digito no MSN, riram porque eu ouço Baden, até o Google riu de mim.
Fui obrigada a me habituar com a tecnologia. Ela colocou a colher na minha goela, sem fazer aviãozinho, e de quebra um chapeuzinho cônico na minha cabeça.
Boba. Mas deixa eu explicar melhor.
Eu caço música. As mais estranhas, mais poéticas, as mais "Eu". As menos escutadas.
Tão menos, que até o Google ignora minhas buscas.
Minha idade biológica me encheu de rugas musicais e a tecnologia me encheu de perguntas.
Será que eu deveria mesmo ignorar tanto o presente e querer viver de passado? Do passado dos outros, do passado à ferro em brasa, e ficar pretérita o tempo todo?
Será que eu não deveria deixar o Google responder "Britney" pra minha pergunta?
Será que lutar à contra-gosto e contra o gosto da modernidade vai me trazer felicidade, dinheiro, amigos e tudo de mais "hi-tech" que a atualidade tem e eu não tenho, mas queria?
Não sei.
Responda-me você.
Que vê as coisas aí do alto (por isso possui o melhor campo visual de uma visão beem mais-ou menos).
Você talvez poderia chegar junto pra me tirar essas dúvidas.
Você que me fez assim tão ranzinza.
Você que sabe meus intentos e tudo me faz ver desse jeito típico do meu tipinho.
Eu prometo que escuto se você falar.
E se for por e-mail, eu prometo ler e responder.
Mas não me manda pro Google.
Kamila V.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O saco


Eu me percebi esses dias. E juro que tô apavorada.
Eu me dei conta que minha humanidade é perfeita pra viver em Plutão, que nem é planeta, mas é o mais longe que eu posso estar dessa mediocridade terrena.
Não consigo mais disfarçar com aquela carinha de monalisa, que me interesso pelo teu papo.
Prometo pra mim, não disfarçar mais sua chatice e que minha opinião à seu respeito não é das melhores.
Eu já tentei gostar do que as pessoas normais gostam. Já tentei rir das piadas do Tom, gostar de funk, roda-de-pagode, balada, pegar-sem-se-apegar, mas não rolou. E se esse for o clima, não quero e não vou entrar nele.
Dias atrás alguém me disse que eu consigo disfarçar numa risadinha elegante, as gafes cometidas por seres, ditos humanos, do meu meio de convívio.
Mas minha paciência tá bem perto do limite, que num esforço sobrenatural tá sendo esticado ao GG, pra eu não perder a compostura.
Não é TPM, nunca tive isso, não acredito que exista, pra merda essas garotas tepeêmicas.
É saco. Acreditem, por trás de toda essa feminilidade venusiana aparente, existe um saco.
Ele comporta dentro de si, todas as porcarias humanas. Sabe aquela besteira, aquela mentira, aquela decepção, aquele engano, aquela promessa cafajeste, que você cometeu, disse e fez pra mim? Então. Agradeça à minha paciência, pois como diriam minha adoráveis amigas do telemarketing: Eu estou estando guardando com calma tudo no saco.
Aliás, elas também tão no saco.
Mas voltando ao topo, quando eu falei do medo de mim.
É que assim. Eu to realmente preocupada com o tanto de nojeira em quilo que meu saco aguenta.
Baboseira em metros. Lágrimas em litro.
A resistência da minha paciência ( e do saco!) surpreende a mim a ao fabricante do dito cujo.
Eu tenho medo de não ter mais um saco pra viver.
Eu quero um novo, novo e vazio.
Pra poder reabastecê-lo sem medo.
Pra poder aguentar um pouco mais da novela das 8, das propagandas de banco que fazem sinal com indicador, do Faustão( a mulher dele deve ter um saco invejável da Louis Vuitton), pra poder aguentar com leveza, doçura e sorriso de Mc'garota a amolação social.
Mas o saco tá aí. Frágil, prestes a entregar-se.
E o pior de tudo, o ventilador tá ligado.
Kamila V.




quarta-feira, 14 de maio de 2008

Crítica ao excesso.


Meno lixo, menos mentira, menos sonho.
Menos bajulação, menos política, menos sono.
Menos computador, menos tilenol, menos aula faixa.
Menos nós dois, menos congestionamento, menos nota baixa.
Menos gordura localizada, menos ócio, menos roupa-suja.
Menos ladeira, menos encenação, menos promessas.
Menos suor, menos créu, menos cuidado.
Menos ciúme, menos febre, menos desconfiança.
Menos chiclete na sola, menos consumo, menos peso.
Menos religião, menos trabalho, menos distância.
Menos saudade, menos exposição, menos recados.
Menos incerteza, menos infidelidade, menos horário-marcado.
Bem menos do que é muito, porque o excesso sempre sobra.
E a gente fica sem saber o que fazer com essas coisas todas a mais.
De repente não tem mais lugar pro lixo no aterro.
Nem fôlego pra subir a ladeira.
Nem lugar pra saudade no coração.
Nem ouvidos pro créu. Nem roupa nova pro peso novo.
Nem paciência pra político na televisão.
E não se tem mais tempo, nem mais espaço.
O ambiente torna-se pequeno e o excesso amontoado.
Assim com ônibus das seis.
Assim como o mundo pra nós.
Kamila V.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

O lado bom.



Eu deveria ter fechado o guarda-chuva pra sentir na pele o prazer que sente a terra quando se molha.
E ter tomado banho de mangueira, em vez de reclamar do verão.
Eu deveria experimentar a dor do frio e da fome, quando reclamo da blusa marrom e do arroz com feijão.
Eu deveria responder a todas perguntas do falante que sentou ao meu lado no ônibus e descobrir com isso coisas mais interessantes que minha medíocre solidão.
Eu não deveria ter trocado aquele amigo que trocou de opinião.
Eu não deveria ter chorado nos tombos que tive; Com eles aprendi a cair com jeito.
E aprendi que não importa o tamanho da minha indignação, da minha raiva,da minha indiferença, do meu choro, não importa minha greve de fome, nem a qualidade dos meus reclames.
A vida e as circunstâncias são imutáveis.Quem deve mudar sou eu e esse meu jeito cego de ver vida.
Tenho que dizer "eu te amo", antes que a pessoa feche a porta.
Tenho que viver o dia, antes que a noite o roube de mim.
Tenho que pular corda, enquanto minha coluna permite.
Tenho que realizar, quando surgir a oportunidade de parar de sonhar.
Tenho que participar dos momentos importantes das pessoas que me importam.
Tenho que deixar marcas, e levar as suas comigo.
Tenho que ser jovem, até que as rugas me provem o contrário.
Tenho que discutir com você até a gente fazer as pazes.
Tenho que rir até doer a barriga.
No jogo, passar em todas as fases.
Caminhar na praia enterrar o pé n'areia.
Comer jiló, falar de boca cheia.
Pedir o troco a menos.
Devolver o troco a mais.
Parar de reclamar da política.
De tirar o lugar na fila,de quem tá atrás.
Posso criar ilusões, ou viver com graça a minha realidade.
Posso alimentar minha insatisfação, ou sossegar com o que tenho.
Posso facilitar pra Deus, estando aí pro que der e vier, da parte dele.

Quero não ter que duvidar das possibilidades, nem ter de esperar a chegada de dias melhores.
Quero meu melhor dia pra ontem.
Debaixo de chuva, de calor, desarrumada e despreparada.
Quero ser o melhor que puder, naquilo que nem sei fazer.
Quero descobrir o lado bom de sofrer.
Se ele tiver mais que um lado, é claro.
Quero aprender sobre decepções, sem maiores dramas.
Quero aceitar esse teu jeito e rir da nossa imperfeição.
Quero fazer programa de índio.
Enxergar beleza na escuridão.
Quero perder a mania de falar mal da segunda-feira e do segundo lugar.
E num repente, botar nossa tristeza pra andar.
Espero que ainda dê tempo.
De te agradecer por aquela crítica.
De tomar banho de chuva.
De viver mais um verão.
De comer feijão.
De cair com jeito.
De me arrepender do não feito.
De tentar ser melhor.
De cantar sem pensar no tom.
E descobrir que tudo na vida tem um só lado, o lado bom.
KamilaV.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Tudo, menos eu.


Eu queria tanto entender e ser o que te agrada.
Eu seguiria à risca o caminho que leva até tua vontade.
Pintaria esse fim de mundo com as cores que você gosta.
Se me pedisse, te odiaria, só pra fazer paz de novo.
Não te acordaria, quando o relógio te chamasse, só pra continuar a ouvir o respirar macio que tem teu sono.
Eu seria tanto ou nada, conforme teu humor.
Apareceria discreta pra não causar vergonha, e ousaria pra não causar esquecimento.
Guardaria teu cheiro, gosto, imagem, pele e voz, pra fazer valer todos os sentidos.
Abriria mão do meu jeito nada nobre de ser.
Negociaria tempo com o tempo, pra que ele nunca me privasse de você.
Desataria os nós da linha da vida, pra que ela se alongasse.
Inventaria uma teoria, pra tentar explicar a solidão que é, quando você não é.
Se eu pudesse, de verdade, me desfaria em todos esses pedaços, pra concretizar o sonho que tivesses naquela tarde de domingo, ocioso.
Queria eu ser tanto.
Queria eu ser inspiração, ser motivo, ser dona e não inquilina dos teus olhos.
Queria eu, te fazer feliz.
Queria eu, não ser eu.
Kamila V.


quarta-feira, 23 de abril de 2008

As promessas que recebo.



E eu falava era de esperança.
Dizem que todos a tem, dizem até que é a última a morrer.
Hoje a tarde eu discordei dessa idéia, mesmo porque foi só hoje à tarde que eu descobri que promessas podem ser quebradas, e quebradas com classe, com naturalidade.
À exemplo, eu falo das crianças, que sempre esperam o doce, o presente prometido.
E com isso eu percebo que cresci, que as pessoas continuam a esquecer dos meus doces, e que quando lembram de me entregar, eles já estão velhos, amargos.
Mas deixe estar, sinto que chegou hora de entregar os que prometi. E como eu prometi.
Disse que ia ligar.
Disse que ia escrever.
Disse que ia rir das piadas.
Disse que ia morrer se partisse.
Disse que ia chorar se morresse.
Disse que ia morder se aprontasse.
Disse que ia sofrer se mentisse.
Disse que ia mentir pra que se protegesse.
Disse que cantaria se tocasse.
Disse até o absurdo de que ia amar, mesmo se não amasse.
E assim são as promessas, têm o sutil poder de acabar com a coitada da esperança.
Faz a gente virar idiota. Débil.
Faz a gente colocar dente debaixo do travesseiro.
Faz a gente por a meia na janela.
Faz a gente escrever o que o outro diz.
Faz a gente sonhar.
E sonhar com promessas, é o que há de pesadelo.
Hoje eu não aceito mais nenhuma promessa sua, nenhuma.
Não impeço que me prometa, apenas não as tomo pra mim.
Eu as deixo na atmosfera dos pensamentos, porque assim elas não são minhas.
Nem suas. Nem de ninguém.
E talvez um dia quando tornarem-se reais, possam ser nossas.
KamilaV.

quarta-feira, 16 de abril de 2008




'' - A televisão, amigo Daniel, é o anticristo, e eu digo que bastarão três ou quatro gerações para as pessoas não saberem mais nem peidar por conta própria e para o ser humano volta à caverna, à barbárie medieval, a estados de imbecilidade que a lesma já superou por volta do Pleistoceno. Este mundo não vai acabar por causa da bomba atômica, como dizem os jornais, vai acabar, sim, de tanta risada, de tanta banalidade, por essa mania de se fazer piada com tudo e além do mais piadas ruins."


Tá parecendo textinho do Arnaldo Jabor né? Mas não é.
O trecho foi tirado do livro "A sombra do Vento" de Carlos Ruiz Zafón, que aliás foi presente de uma amiga.
A fala é do personagem Fermín Romero Torres, um mendigo das ruas de Barcelona nos tempos pós-guerra. Concordo com Romero, o mendigo, se é que ele existiu e falou isso.
Se não, rendo meus elogios à criatividade de Zafón..que em simples palavras descreveu para onde estamos caminhando.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O mundo meu e teu.


Antes:
Que todos acreditem no meu faz-de-conta.
Depois:
Que todos que participem sejam bons atores.
Que o impossível faça parte do nosso cotidiano.
Que a fome e a dor sejam lendas que os livros contem, de um passado distante.
Que o amor seja a moeda corrente.
E que o papel-moeda seja o papel-higiênico.
Que as crianças sejam professores. E os políticos, bons alunos.
Que os livros venham de sobremesa, após a música, que será o nosso almoço e jantar.
Que os pés andem descalçados.
Que as roupas sejam leves e não apertem.
Que os bons sejam todos.
Que Deus seja meu vizinho.
Que meus amigos sejam necessariamente meus irmãos.
Que os sentimentos bons sejam cores.
Que tenhamos asas como meio de transporte
Que falemos todos a mesma língua e todas as línguas.
Que a passagem pra lá seja barata.
Que o amor que tiver seja só meu.
E eu só dele.
Que seja eterno, sem essa história de "enquanto dure".
Que não haja despedida, nem desencontro.
Acima de tudo, que você goste do lugar que criei pra nós dois.
Kamila V.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Esperando Aviões.


Pra falar de música, tem que falar dessa.

http://www.youtube.com/watch?v=mzn-Ht_PEw4


Meus olhos te viram triste

Olhando pro infinito

Tentando ouvir o som do próprio grito

E o louco que ainda me resta

Só quis te levar pra festa

Você me amou de um jeito tão aflito

Que eu queria poder te dizer sem palavras

Eu queria poder te cantar sem canções

Eu queria viver morrendo em sua teia

Seu sangue correndo em minha veia

Seu cheiro morando em meus pulmões

Cada dia que passo sem sua presença

Sou um presidiário cumprindo sentença

Sou um velho diário perdido na areia

Esperando que você me leia

Sou pista vazia esperando aviões

terça-feira, 8 de abril de 2008

Metade da maçã de Eva.


Eu levei séculos para descobrir e entender o que Shakespeare já dizia.
Anacrônica, atrasada!
Só hoje eu confirmei que não importa o quanto uma pessoa te ame, ela vai te fazer sofrer.
E isso é um ciclo, no qual me incluo. Acredito, por pretensão ou não, que já fiz algumas pessoas inundarem seus travesseiros, por verdades ou grosserias que eu cometi.
Assim como já passei também boa parte de algumas noites, contribuindo para o desmatamento com meus lenços de papel.
E descobri uma boa nova, por assim dizer; Ninguém morre de amor.
Bem que esse ditado existe desde a época da minha vó, mas só agora eu entendi. Fazendo juz novamente ao meu atraso.
Não sei até que ponto isso é ruim. Nem sei se é bom.
A única coisa que consegui assimilar na noite de ontem, é que se essas verdades tivessem sido reveladas a mim desde sempre, eu não teria me entregado tanto aos amores que tive.
Não teria confiado tanto nas pessoas, por prever que elas me fariam sofrer.
Se eu soubesse que é impossível morrer de amor, eu teria deixado ele (o amor) partir na primeira desilusão.Mas não, eu o agarrei forte...porque sempre tive medo da morte.
Porém a vida me deu consciência, assim como a fruta deu à Eva.
Me ensinou sobre decepções, em aulas práticas.
Me ensinou que elas nunca vão parar, a menos que eu viva isolada.
Me ensinou que as pessoas machucam. Amam e machucam simultaneamente.
E eu penso que aprendi.
Hoje eu posso escolher quando e como quero sofrer.
Posso escolher também se quero amar ou não.
Mas não posso escolher de quem me virá isso.
Essa é a parte que eu e Eva ainda buscamos.
Acho que a gente comeu só metade da maçã.



Kamila V.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Mulher do século 20.


Eu navegando por aí, encontrei um site com o Banco de Dados com todas as publicações da Folha de São Paulo, desde a década de 20. Dentre as muitas pérolas, essa me chamou a atenção.

Divirtam-se.( A grafia foi mantida na íntegra)




Publicado na Folha da Manhã, domingo, 5 de maio de 1929


Das mulheres.


Ellas julgam os homens capazes de acções taes, que elles se tornam comprehendidos por ellas em toda a extensão do vocabulo.
Uma mulher, as vezes, é um poema pela manhã, uma asneira ao meio-dia e um remorso à noite.
Na imaginação do homem ha sempre um logar para um nome de mulher.

Substitue nella as horas vasias.
A maior fraqueza do homem é ter por complemento a mulher.
Os poetas são delinquentes da belleza quando comparam um rosa a uma mulher.
As mulheres reivindicam um direito que jamais terão: - a altura "politica" do homem.

Estes, por sua vez, reconhecem nellas apenas um direito: - serem toleradas...
O que mais sentimos de uma mulher, que a nossa illusão envolveu, é a saudade.
Uma mulher, de longe, commanda nossos actos.

De perto, destroe nossas tentativas.
As mulheres são amadas por fatalidade.

E, por fatalidade, fazem do amor o logar-commum da vida.
Os philosophos materialistas repousam suas idéas na mulher.
Os homens escravisam-se das mulheres para dar-lhe apenas uma certa importancia.
Na Historia encontram-se nomes de mulheres que alli tiveram ingresso por um deslise dos homens.
Eva: - Illusão de que o inferno é um paraiso.

domingo, 6 de abril de 2008

Meu motivo.


Foi você que me fez acreditar que ainda era possível...
Fugir da regra, fugir da métrica e ainda ser nobre.
Foi com você que eu percebi a presença, no coração de um adulto, da inocência...
Foi você que me abriu os olhos para poder enxergar, como é lindo o amanhecer do dia quando estamos juntos.
E nessa vida que não nos dá a chance de encontrarmos príncipes e princesas, você me apresentou uma perfeição humana demais, digna de realeza...
Quando me fala de amor, quando me cessa a dor, quando me devolve a vida e todos os motivos de ser...
Se não fosse você ali, nem sei o que seria de mim
Se não é você aqui, não sei o que fazer
Talvez eu estivesse nessa vida por estar...
E seriam meus dias, apenas sequências de horas...
E seriam meus sonhos, bobagens irreais...
Se não fosse você, meu presente pesado seria...
Ah, se não fosse você eu te inventaria.
Kamila V.

Oi pipows!




Hoje é domingo..aquela pré-segunda de sempre.
Como todo bom domingo que se preze, o Faustão tá na telinha, o Gugu contando os sabonetes da banheira e eu no sofá ruminando meu almoço light de domingo.
Domingo é aquela coisa né...A gente acorda meio-dia, com a cara em forma lunar, olha pela janela e pensa que foi todo mundo arrebatado porque a rua tá deserta: É domingo.
Depois a campainha toca, chega a vó e as tias que vieram mais uma vez almoçar sem avisar;
Aquela barulhada quando tudo que você quer é o silêncio do domingo.
E depois tem louça, tem sujeira, tem homem no sofá pedindo sobremesa, tem gente no quarto da gente, dormindo na cama da gente...e o que era pra ser um maravilhoso começo de semana, transforma-se no mesmo domingo de sempre.
Tem gente que odeia segunda, eu odeio domingo.
Pra mim a segunda-feira é formidável.
Eu não tenho tempo de comer, portanto são quilos a menos.
Eu não tenho tempo de dormir, portanto minha cara fica sempre do jeito que deveria ficar.
Minha casa fica deserta, minha cama arrumada, o silêncio impera, e eu descanso.
Descanso de reclamar, de pensar besteiras, de fazer nada, de ser inútil.
A semana não me dá tempo pra minutos melodramáticos.
Viva a semana!
Viva o trabalho escravo!
É assim (e só assim...) que o Brasil vai pra frente!

Boa semana.
Kamila V.


sábado, 5 de abril de 2008

Desabafo.


É um tal de blá blá blá que me cansa...
É um tal de "sempreamesmacoisa" que me dá náusea.
Tudo deveria se renovar:Eu, você, as misericórdias.
Porque então buscar ser igual?Ser mais um na multidão, não tem a menor graça.
Graça mesmo tem a vida.O amor.Os amigos.
O sorvete geladinho,a havaiana no pé, o banho de cachoeira, o violão e a fogueira.
Graça mesmo, têm aquelas piadinhas sem graça.
Tem graça a coletividade!!
Tudo e todos em bando...Cantar em bando.Jogar em bando.Ir pro céu em bando.
Ser feliz com quem realmente vale à pena!E pra mim todo mundo vale à pena.
O que não vale à pena, é o que todo mundo faz.
Todo mundo faz a mesma coisa...E de coisas estou cheia...Meu guarda-roupas está cheio.
Minhas gavetas estão cheias...
Eu sinceramente gostaria de fazer a diferença..mas tenho uma dificuldade enorme em ser igual...
Porque pra mim fazer diferença, tenho que ser igual.
Não à todo mundo..
Mas igual à Ele.