segunda-feira, 28 de abril de 2008

Tudo, menos eu.


Eu queria tanto entender e ser o que te agrada.
Eu seguiria à risca o caminho que leva até tua vontade.
Pintaria esse fim de mundo com as cores que você gosta.
Se me pedisse, te odiaria, só pra fazer paz de novo.
Não te acordaria, quando o relógio te chamasse, só pra continuar a ouvir o respirar macio que tem teu sono.
Eu seria tanto ou nada, conforme teu humor.
Apareceria discreta pra não causar vergonha, e ousaria pra não causar esquecimento.
Guardaria teu cheiro, gosto, imagem, pele e voz, pra fazer valer todos os sentidos.
Abriria mão do meu jeito nada nobre de ser.
Negociaria tempo com o tempo, pra que ele nunca me privasse de você.
Desataria os nós da linha da vida, pra que ela se alongasse.
Inventaria uma teoria, pra tentar explicar a solidão que é, quando você não é.
Se eu pudesse, de verdade, me desfaria em todos esses pedaços, pra concretizar o sonho que tivesses naquela tarde de domingo, ocioso.
Queria eu ser tanto.
Queria eu ser inspiração, ser motivo, ser dona e não inquilina dos teus olhos.
Queria eu, te fazer feliz.
Queria eu, não ser eu.
Kamila V.


quarta-feira, 23 de abril de 2008

As promessas que recebo.



E eu falava era de esperança.
Dizem que todos a tem, dizem até que é a última a morrer.
Hoje a tarde eu discordei dessa idéia, mesmo porque foi só hoje à tarde que eu descobri que promessas podem ser quebradas, e quebradas com classe, com naturalidade.
À exemplo, eu falo das crianças, que sempre esperam o doce, o presente prometido.
E com isso eu percebo que cresci, que as pessoas continuam a esquecer dos meus doces, e que quando lembram de me entregar, eles já estão velhos, amargos.
Mas deixe estar, sinto que chegou hora de entregar os que prometi. E como eu prometi.
Disse que ia ligar.
Disse que ia escrever.
Disse que ia rir das piadas.
Disse que ia morrer se partisse.
Disse que ia chorar se morresse.
Disse que ia morder se aprontasse.
Disse que ia sofrer se mentisse.
Disse que ia mentir pra que se protegesse.
Disse que cantaria se tocasse.
Disse até o absurdo de que ia amar, mesmo se não amasse.
E assim são as promessas, têm o sutil poder de acabar com a coitada da esperança.
Faz a gente virar idiota. Débil.
Faz a gente colocar dente debaixo do travesseiro.
Faz a gente por a meia na janela.
Faz a gente escrever o que o outro diz.
Faz a gente sonhar.
E sonhar com promessas, é o que há de pesadelo.
Hoje eu não aceito mais nenhuma promessa sua, nenhuma.
Não impeço que me prometa, apenas não as tomo pra mim.
Eu as deixo na atmosfera dos pensamentos, porque assim elas não são minhas.
Nem suas. Nem de ninguém.
E talvez um dia quando tornarem-se reais, possam ser nossas.
KamilaV.

quarta-feira, 16 de abril de 2008




'' - A televisão, amigo Daniel, é o anticristo, e eu digo que bastarão três ou quatro gerações para as pessoas não saberem mais nem peidar por conta própria e para o ser humano volta à caverna, à barbárie medieval, a estados de imbecilidade que a lesma já superou por volta do Pleistoceno. Este mundo não vai acabar por causa da bomba atômica, como dizem os jornais, vai acabar, sim, de tanta risada, de tanta banalidade, por essa mania de se fazer piada com tudo e além do mais piadas ruins."


Tá parecendo textinho do Arnaldo Jabor né? Mas não é.
O trecho foi tirado do livro "A sombra do Vento" de Carlos Ruiz Zafón, que aliás foi presente de uma amiga.
A fala é do personagem Fermín Romero Torres, um mendigo das ruas de Barcelona nos tempos pós-guerra. Concordo com Romero, o mendigo, se é que ele existiu e falou isso.
Se não, rendo meus elogios à criatividade de Zafón..que em simples palavras descreveu para onde estamos caminhando.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O mundo meu e teu.


Antes:
Que todos acreditem no meu faz-de-conta.
Depois:
Que todos que participem sejam bons atores.
Que o impossível faça parte do nosso cotidiano.
Que a fome e a dor sejam lendas que os livros contem, de um passado distante.
Que o amor seja a moeda corrente.
E que o papel-moeda seja o papel-higiênico.
Que as crianças sejam professores. E os políticos, bons alunos.
Que os livros venham de sobremesa, após a música, que será o nosso almoço e jantar.
Que os pés andem descalçados.
Que as roupas sejam leves e não apertem.
Que os bons sejam todos.
Que Deus seja meu vizinho.
Que meus amigos sejam necessariamente meus irmãos.
Que os sentimentos bons sejam cores.
Que tenhamos asas como meio de transporte
Que falemos todos a mesma língua e todas as línguas.
Que a passagem pra lá seja barata.
Que o amor que tiver seja só meu.
E eu só dele.
Que seja eterno, sem essa história de "enquanto dure".
Que não haja despedida, nem desencontro.
Acima de tudo, que você goste do lugar que criei pra nós dois.
Kamila V.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Esperando Aviões.


Pra falar de música, tem que falar dessa.

http://www.youtube.com/watch?v=mzn-Ht_PEw4


Meus olhos te viram triste

Olhando pro infinito

Tentando ouvir o som do próprio grito

E o louco que ainda me resta

Só quis te levar pra festa

Você me amou de um jeito tão aflito

Que eu queria poder te dizer sem palavras

Eu queria poder te cantar sem canções

Eu queria viver morrendo em sua teia

Seu sangue correndo em minha veia

Seu cheiro morando em meus pulmões

Cada dia que passo sem sua presença

Sou um presidiário cumprindo sentença

Sou um velho diário perdido na areia

Esperando que você me leia

Sou pista vazia esperando aviões

terça-feira, 8 de abril de 2008

Metade da maçã de Eva.


Eu levei séculos para descobrir e entender o que Shakespeare já dizia.
Anacrônica, atrasada!
Só hoje eu confirmei que não importa o quanto uma pessoa te ame, ela vai te fazer sofrer.
E isso é um ciclo, no qual me incluo. Acredito, por pretensão ou não, que já fiz algumas pessoas inundarem seus travesseiros, por verdades ou grosserias que eu cometi.
Assim como já passei também boa parte de algumas noites, contribuindo para o desmatamento com meus lenços de papel.
E descobri uma boa nova, por assim dizer; Ninguém morre de amor.
Bem que esse ditado existe desde a época da minha vó, mas só agora eu entendi. Fazendo juz novamente ao meu atraso.
Não sei até que ponto isso é ruim. Nem sei se é bom.
A única coisa que consegui assimilar na noite de ontem, é que se essas verdades tivessem sido reveladas a mim desde sempre, eu não teria me entregado tanto aos amores que tive.
Não teria confiado tanto nas pessoas, por prever que elas me fariam sofrer.
Se eu soubesse que é impossível morrer de amor, eu teria deixado ele (o amor) partir na primeira desilusão.Mas não, eu o agarrei forte...porque sempre tive medo da morte.
Porém a vida me deu consciência, assim como a fruta deu à Eva.
Me ensinou sobre decepções, em aulas práticas.
Me ensinou que elas nunca vão parar, a menos que eu viva isolada.
Me ensinou que as pessoas machucam. Amam e machucam simultaneamente.
E eu penso que aprendi.
Hoje eu posso escolher quando e como quero sofrer.
Posso escolher também se quero amar ou não.
Mas não posso escolher de quem me virá isso.
Essa é a parte que eu e Eva ainda buscamos.
Acho que a gente comeu só metade da maçã.



Kamila V.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Mulher do século 20.


Eu navegando por aí, encontrei um site com o Banco de Dados com todas as publicações da Folha de São Paulo, desde a década de 20. Dentre as muitas pérolas, essa me chamou a atenção.

Divirtam-se.( A grafia foi mantida na íntegra)




Publicado na Folha da Manhã, domingo, 5 de maio de 1929


Das mulheres.


Ellas julgam os homens capazes de acções taes, que elles se tornam comprehendidos por ellas em toda a extensão do vocabulo.
Uma mulher, as vezes, é um poema pela manhã, uma asneira ao meio-dia e um remorso à noite.
Na imaginação do homem ha sempre um logar para um nome de mulher.

Substitue nella as horas vasias.
A maior fraqueza do homem é ter por complemento a mulher.
Os poetas são delinquentes da belleza quando comparam um rosa a uma mulher.
As mulheres reivindicam um direito que jamais terão: - a altura "politica" do homem.

Estes, por sua vez, reconhecem nellas apenas um direito: - serem toleradas...
O que mais sentimos de uma mulher, que a nossa illusão envolveu, é a saudade.
Uma mulher, de longe, commanda nossos actos.

De perto, destroe nossas tentativas.
As mulheres são amadas por fatalidade.

E, por fatalidade, fazem do amor o logar-commum da vida.
Os philosophos materialistas repousam suas idéas na mulher.
Os homens escravisam-se das mulheres para dar-lhe apenas uma certa importancia.
Na Historia encontram-se nomes de mulheres que alli tiveram ingresso por um deslise dos homens.
Eva: - Illusão de que o inferno é um paraiso.

domingo, 6 de abril de 2008

Meu motivo.


Foi você que me fez acreditar que ainda era possível...
Fugir da regra, fugir da métrica e ainda ser nobre.
Foi com você que eu percebi a presença, no coração de um adulto, da inocência...
Foi você que me abriu os olhos para poder enxergar, como é lindo o amanhecer do dia quando estamos juntos.
E nessa vida que não nos dá a chance de encontrarmos príncipes e princesas, você me apresentou uma perfeição humana demais, digna de realeza...
Quando me fala de amor, quando me cessa a dor, quando me devolve a vida e todos os motivos de ser...
Se não fosse você ali, nem sei o que seria de mim
Se não é você aqui, não sei o que fazer
Talvez eu estivesse nessa vida por estar...
E seriam meus dias, apenas sequências de horas...
E seriam meus sonhos, bobagens irreais...
Se não fosse você, meu presente pesado seria...
Ah, se não fosse você eu te inventaria.
Kamila V.

Oi pipows!




Hoje é domingo..aquela pré-segunda de sempre.
Como todo bom domingo que se preze, o Faustão tá na telinha, o Gugu contando os sabonetes da banheira e eu no sofá ruminando meu almoço light de domingo.
Domingo é aquela coisa né...A gente acorda meio-dia, com a cara em forma lunar, olha pela janela e pensa que foi todo mundo arrebatado porque a rua tá deserta: É domingo.
Depois a campainha toca, chega a vó e as tias que vieram mais uma vez almoçar sem avisar;
Aquela barulhada quando tudo que você quer é o silêncio do domingo.
E depois tem louça, tem sujeira, tem homem no sofá pedindo sobremesa, tem gente no quarto da gente, dormindo na cama da gente...e o que era pra ser um maravilhoso começo de semana, transforma-se no mesmo domingo de sempre.
Tem gente que odeia segunda, eu odeio domingo.
Pra mim a segunda-feira é formidável.
Eu não tenho tempo de comer, portanto são quilos a menos.
Eu não tenho tempo de dormir, portanto minha cara fica sempre do jeito que deveria ficar.
Minha casa fica deserta, minha cama arrumada, o silêncio impera, e eu descanso.
Descanso de reclamar, de pensar besteiras, de fazer nada, de ser inútil.
A semana não me dá tempo pra minutos melodramáticos.
Viva a semana!
Viva o trabalho escravo!
É assim (e só assim...) que o Brasil vai pra frente!

Boa semana.
Kamila V.


sábado, 5 de abril de 2008

Desabafo.


É um tal de blá blá blá que me cansa...
É um tal de "sempreamesmacoisa" que me dá náusea.
Tudo deveria se renovar:Eu, você, as misericórdias.
Porque então buscar ser igual?Ser mais um na multidão, não tem a menor graça.
Graça mesmo tem a vida.O amor.Os amigos.
O sorvete geladinho,a havaiana no pé, o banho de cachoeira, o violão e a fogueira.
Graça mesmo, têm aquelas piadinhas sem graça.
Tem graça a coletividade!!
Tudo e todos em bando...Cantar em bando.Jogar em bando.Ir pro céu em bando.
Ser feliz com quem realmente vale à pena!E pra mim todo mundo vale à pena.
O que não vale à pena, é o que todo mundo faz.
Todo mundo faz a mesma coisa...E de coisas estou cheia...Meu guarda-roupas está cheio.
Minhas gavetas estão cheias...
Eu sinceramente gostaria de fazer a diferença..mas tenho uma dificuldade enorme em ser igual...
Porque pra mim fazer diferença, tenho que ser igual.
Não à todo mundo..
Mas igual à Ele.